sábado, outubro 21, 2006

A Canção

Ao percorrer a marinha tela celeste
cruzo o olhar com uma certa estrela,
a mesma que há milhares de anos
um meu ancestral focou.
E com um sussurro esfíngico a inquiro
sobre os segredos da humanidade.

Leva-me a percorrer à velocidade da tua luz
a História que apática presenciaste.
Mas quero observar tudo sem filtros …
o trágico e o cruel… o alegre e o compassivo.
Pela viagem implacavelmente franca
saberei assim mais do que sou!

A estrela troça desta minha ingenuidade:
- Milenares memórias eivadas turvam o espírito
numa ilusória supra-consciência de ignorante soberba!
Mas estrela, eu consigo voltar a nascer da tua luz!
Não é a imutável e perene verdade que se altera
é sim, de medos e ódios que uma alma se prende.

Com relutância me apresenta o “circo de vaidades”,
Reino de um só rei pelas sucessivas iras deposto.
Mas no mesmo mofento palco de sangue e caveiras cravado
admiro agora a mais honesta e notável Canção!
O prodigioso desconhecido que estende a mão
oferecendo moribundo pedaços de compaixão…

A Natureza Humana aos opostos se estende,
do acto mais vil ao gesto mais comovente.
Assim pairamos assustados calando a voz interior
na tentativa frustrada de apagar a dor.
É o abraço de esperança que nos leva sempre a lutar
mas é a nossa voz de criança que nos indica o sonhar.

Atento assim nas imagens agudas
e da estrela me despeço com gratidão.
Agora na construção do presente
opto por ouvir sempre a mesma Canção.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Ciclo da Água

Que dia solarengo este que me desperta a contemplar!
Visto um vestido de tons de terra e vou até ao lago nadar.
O lago é um espelho que me reflecte a imagem
mas eu quero ver a outra face … vislumbrar a margem.

Então banho-me nas suas águas
e afago o leito de cristalina plenitude.
Cores e formas tão diversas
habitam esta “fonte de eterna juventude”.

Na erosão das rochas polidas vou repousar.
O sol que me abraça num encanto sedutor
aquece-me o corpo para as gotas me levar
mas eu vou no seu encalço pelo céu azul de mar.

Nesta viagem transcendental
revigoro os sentidos e com o tempo condenso.
Do choque de vapores no nevoeiro denso
renasço - imaculada chuva vital.

É este odor a terra molhada
que se infiltra pelo horizonte terrestre
alimentando e gerando Vida
no ambiente mais agreste.

Assim corro até ao mar
e provo a lágrima mais salgada
venerando o ciclo generoso
que faz da Terra esta tão singular morada.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Universo mútuo

Adormeço com a leveza de um sorriso
e ao ritmo do pássaro que recolhe ao ninho
sorvo todos os seres e as forças universais.
São sussurros do vento que me exalam no peito
elementos de natureza primordiais.

Nos reflexos de harmonia da resplandecente aurora
festejo a beleza em cada recanto instaurada.
Da arrebatadora e transbordante energia,
que irrompe da terra e nos doa a Vida
testemunho a flor que da ferida brota restaurada.

Então fundo-me na luz e já não sou eu!
Reconheço-me apenas numa valsa de moléculas
que rodopiam por órbitas intemporais.
Unidos no mundo pelos embriões da mesma essência
Somos fruto do mesmo tudo, fruto do mesmo nada…
Locations of visitors to this page