domingo, novembro 15, 2009

Onde a música me leva

Na vertigem de uma festa fúnebre,
por entre silêncios e sons,
encho o peito de mínimas, fusas,
breves e colcheias,
para pintar as sensações
de ressonâncias da alma.

Pelo jogo organizadamente improvisado
de ritmo, melodia e harmonia,
flutuo num levitar seguro,
que me abre as portas do mundo
num constante arrebate.

Liberto os tempos!
Rasgo as partituras!
Para ofertar aos deuses
claves de sóis singulares.

Nesta terapêutica jornada
comunico as frequências,
universais e consonantes,
que as fronteiras transpõem.

E é na diversidade acústica,
sinestesia de, eco que reluz
o timbre intenso e magnético da tua voz.
Prorrogação da reverberação…
onde a música me leva.

domingo, agosto 09, 2009

Navegante quiromante

Olho a minha mão aberta
de geóide complexo e irregular.
Gaia rochosa mas não deserta,
sistema vivo tão singular.

Estico bem os dedos
e de um mergulho sem medos,
percorro os oceanos sem fatigar,
do mindinho ao polegar.

As veias marcadas na crosta ardente,
debaixo da pele, do manto irrompem,
numa erupção nuclear de calor latente.
Vapores de emoções que assomem.

Articulo agora os gestos,
fantoches animados.
Sete continentes distintos
na palma da mão desenhados.

Pela densidade do tacto
decifro os segredos do mundo.
Como navegante quiromante
alcanço os antípodas num segundo.

Translação da articulação,
que no magnetismo acelerado,
me leva de encontro à tua mão
como corpo polarizado.

As duas mãos abertas,
e outrora vazias,
no entrelaçar,
restam preenchidas.

quarta-feira, julho 22, 2009

Fusão no amar

Deus quer”

Reactores da criação,
Que do nada tudo geram.
Consumida a instigação,
A liberdade veneram.

“O Homem sonha”

Renúncia ao sonhar!
O mesmo beijo que embala
leva sempre a despertar.

“A obra nasce”

A máquina
Urge força motriz.
Abnegada entrega – componente
Para ser feliz.

Ciclo combinado,
De um motor que nos liberta,
Activada a ligação,
que nos desperta.

A esta reacção,
Acelerada a esperança.
Incólume e imemorial
Partícula alfa da união,
Que a poucos alcança.

domingo, março 22, 2009

Meio-morto

Este é um daqueles dias em que me apetece morrer.
Morrer várias vezes, com dó e piedade,
ser egoísta, ignorar muitíssimo quem fica.

Chateia-me ser forte ou no molhado,
ser fraco ou chover,
se o que me apetece hoje é não ser.

Que irritante pantomina,
eterna luta
da amiúde repugna
de sofrer.

Se não quiseres sofrer, sofre muito.
Do osso ao tutano,
corrói a ferro e fogo,
mas sente, sente que dói.

Que aborrecimento é ser
e não ser ao mesmo tempo.
Pois se morrer hoje, e amanhã não,
hoje fui e amanhã serei,
mas meio-morto não.

Por isso hoje morro,
as vezes que tiver de ser,
para mim e para o mundo!
E amanhã, e só se me apetecer!... lá serei.
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