Crime sem contrição
Envolta numa perturbante aura de silêncio espectral
vai levitando insondáveis passos na penumbra.
E é nesta atroz moldura viva que a ferro e aço
se vai desenrolando o funesto retrato:
Absoluto vestido de manobradas amarras,
madeixas toldadas de lembranças emaranhadas
lançando das estigmáticas mãos, as ausências não purgadas
para me ferir com olhar agudo, de ilusões desaustinadas.
Sem polidez ou sobreaviso, num sagaz e ardiloso embuste
me envolveu assim no cativo abraço glacial
para altiva me largar inerte na imensidão
de um doloroso vazio breu de solidão.
Lentamente esmoreci, envolvida de pesar
no turvo nevoeiro de um dó intenso
que me quebrantou em mil esquissos o coração
numa visceral e intensa dilaceração.
Mas exausta de sorrir sempre que chorava,
inebriada de dor, pela insana tortura
agarrei o diáfano punhal de ditosa aresta
e cometi o crime sem contrição!
Fechei todas as feridas para velar o passado
despedindo-me do cadáver que sucumbiu a meu lado.
E, livre do pesado manto que me cobriu de danos
lavei o punhal com as lágrimas de despedidos prantos
Caminho hoje ao sabor do vento
sussurrando palavras sem lamento…
…matei a Saudade.
domingo, janeiro 21, 2007
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1 comentário:
oláá,
eh caracas, tava a ver que nao, já há muito tempo que nao escrevias uma coisinha. Mas afinal ainda andas pronta para as curvas e a inspiracao nao secou. :))
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