domingo, setembro 28, 2008

Método de sobreviver

Morrer ou renascer.
Nada mais há na vida
do que a constante fadiga
de desistir ou viver.

Viver é coisa que assusta,
e morrer é muito radical.
Vaguear pelo meio do caminho
onde sobreviver é o ideal.

Todos os medos adormecidos.
Todas as surpresas calculadas.
Todos os metros antes varridos.
Todas as pulsações harmonizadas.

Exaustiva é a rotina
da austera disciplina
de aniquilar qualquer tentativa
de abalar o ilusório domínio!

O módulo de coma induzido
é um anti-séptico abrigo,
sendo as emoções desincubadas
depois de inertizadas e autoclavadas.

Porque sentir é indissociável de viver,
as sensações, antes de analisadas
são totalmente criogenadas.

Laboratório branco e pueril
onde a descoberta é estéril
num jazigo de caixas de Petri!

Sobreviver é um método.
Se dissecadas as variáveis
é desmascarado o arquétipo
de que “todos os riscos são calculáveis”.

Soporífera ilusão,
inútil a segurança.

A certeza, a conclusão:
A vida perde-se à medida que o tempo avança.

segunda-feira, maio 12, 2008

Pó do firmamento

Se a face espreita, o espelho parte.
Sete anos de alucinações irreflectidas.
Puzzle sem chave à sombra de um baluarte.
Memórias perdidas, sensações reprimidas.

Cada vez menores são os estilhaços de infinito,
peças esquecidas pelo pó que as consome.
Esse pó que asfixia o bramido aflito,
secando a lágrima que a face não assome.

Negrume de um pó que sonha ser vento.
Tão quieto e mortiço…
O mesmo que em terreno movediço...
resgata a fé e urge alento!

O vento que leve o pó das miragens…
Que os núcleos atómicos deste se choquem,
e novas matérias ecludam no firmamento
nutrindo de esperança as novas viagens.

domingo, abril 13, 2008

Infinito de mim

Voo em direcção ao abismo
de onde ninguém me pode resgatar!
A esse lugar sombrio
só eu sei como chegar.

No seu isolamento acústico
grito até perder a voz.
Tentando calar o silêncio
surdo, seco e feroz.

Sem janelas nem luz,
envolta na escuridão,
cegam-me lembranças de mim,
terrífica assombração!

Espaço fechado
que me sorve todo o ar.
É a alma que se escapa,
não mais me vou encontrar!

No buraco frio e estéril
envolvo-me no manto gélido
na tentativa pueril
de adormecer os sentidos.

A fome é o alimento,
bebido o vazio austero,
nada sinto nem lamento
neste canto lúgubre e tão só.

Recôndita é a viagem
ao infinito de mim,
assombrosa é a imagem
de ver-me despida assim…

É a essência se impõe,

forte e delicada…
O abismo eu não temo
para me ter sempre assim… reencontrada.

sábado, março 22, 2008

Poema e chão

Escrevo vastidões homéricas de palavras.
Percorro planícies, desertos e montanhas.
A cada milha, a cada página, chego mais perto…

Superada qualquer dor e a exaustão,
até não sentir já, nem pés, nem mãos.
Adivinham-se páginas em branco e o caminho aberto…

As palavras envolvem-me a cada passo.
As milhas despertam-me a cada verso.
O poema é vivo e o chão estremece!

Percorrer-te sempre a razão.
Dizer-te sempre o coração.
És o Poema!
E, simultaneamente… o meu chão!

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Pedra, carvão e diamante

Pedra decalcada
pela chuva e a madrugada
amorfa ao sonhar e ao sentir.

A pedra tanto aquece como esfria
reflexo do meio envolvente,
não interfere nem se agita.

Não vive, não existe…
arrasta-se por entre a gente
sombra de um autómato ausente.

Sem intuição ou opção
percorre o já traçado
sem revolta ou contrição.

Acorda pedra, acorda!
Não vês o que está em redor?
A pedra responde com torpor.

Num longo processo consciente
fez da dor um carvão denso
envolto num abismo imenso!

Acorda pedra, por favor acorda!
Faz da dor um diamante.
Acorda os olhos por um instante!

O vazio tornou-se inconsciente…
Já não é o torpor um reflexo…
A pedra é pedra e alma não mais.

Já não és e por isso choro.
Vejo-te mas incapaz de te reconhecer
é esta estranheza que me desgasta.

Parto antes que a dor me leve de um trago
antes que não reste mais nada em mim
além de eu mesma … pedra.

domingo, fevereiro 03, 2008

Elemento comum

País que transpõe fronteiras
diluindo-se no mar salgado.
País de infinito alado
erguendo com audácia um céu nunca sonhado.
País de raízes profundas
por entre rochedos instauradas.
País de chama atilada
pelo sangue candente alimentada.

Elementos primordiais geram em unanimidade
um bramido rasgado aos quatro cantos do mundo.
Palavra - pássaro incansavelmente louco
que indomável leva a Liberdade

Este país é o mundo,
a essência, todos nós!
Livres ao respeitarmos
que não estamos sós!

Diferentes percursos,
a mesma origem e o mesmo fim.
Perene é a História
que orgulha e dói.
A responsabilidade suprema:
- verdade e coração.
Assim os meus filhos serão a incólume memória
do melhor que há em mim!
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